segunda-feira, 22 de março de 2010

As cinco melhores da MPB

Por Helder Miranda



Dizem que você só conhece alguém de verdade quando sabe qual a sua cor favorita. Discordo. Você só conhece alguém verdadeiramente quando sabe sobre os seus gostos musicais. Dentro desse contexto, experimentar sonoridades é uma alternativa e tanto. Talvez você se pergunte o que me credencia para falar sobre canções, e eu lhe responderei: a vida.

Para falar delas, é preciso, sobretudo, amá-las, e se você me perguntar se para entrar nesse assunto é preciso um mínimo de conhecimento eu, sinceramente, acredito que não. Além de críticos serem chatos – e muitas vezes fechados ao novo – o “gostar”, seja de música, de um programa de TV ou de alguém – eu, por exemplo, posso não simpatizar  com uma pessoa pelo seu tom de voz –  é algo bem subjetivo.

Todos, da dona de casa ao executivo engravatado, têm as suas predileções e, mesmo que nunca tenham pensado sobre isso, também têm as suas listas. Basta você mandá-las para uma ilha deserta e pedir para que escolham as músicas que querem escutar para o resto da vida… O assunto não para por aí: não é só em relação à sonoridade, há listas para tudo. Qual o top cinco das decepções amorosas, dos momentos de felicidade, dos micos ou das vergonhas alheias que cada um de nós já acumulou até agora? Particularmente, não sei responder de pronto, mas foram várias.

E por que cinco? Explico: a princípio pensei em citar as dez músicas por semana, mas, como não tenho o hábito de ser sintético no que me emociona, só mesmo por pura necessidade, e também para não fazer a lista ficar demasiadamente cansativa, serão cinco a cada domingo, em várias categorias. Assim, muitos terão a oportunidade de escutar todas – e concordar, ou discordar. Historicamente, o número cinco surgiu da necessidade de as pessoas contarem coisas ou objetos, inclusive nos cinco dedos das mãos. Em uma lista de cinco, pelo menos cinco outras boas canções ficam de fora, o que torna tudo muito mais provocativo e saboroso.

Assim como minha Mary Ellen, minha mãe, meu melhor amigo (será mesmo que ele existe?), minhas irmãs têm, e até meu falecido pai já teve, as predileções estão aí, justamente para serem discutidas, mas sobretudo aceitas. E, nesse poderio que me foi dado, pretendo provocar muito. Voltando às predileções, meu pai representa algo que jamais irei me perdoar: não sei qual era sua música favorita…


) Pop Zen – Família Caymmi
Se tem algo que aprendi escutando música é que tudo o que nos é presenteado, ou que presenteamos, não é nosso – a não ser que você esteja dentro de alguma produção musical, literária ou audiovisual. Não basta você dar um presente, ele não é você. Tudo o que damos, não é nosso, e é uma teoria bem simples. O que fica, de nós, é, sim, a companhia, o abraço, a afetividade e a imagem que passamos. Seja ela até vinculada à vontade de ser feliz. Afinal, como diz a música: “…o beijo que você deu, é seu, é seu, é seu beijo”. E, no final das contas, é mesmo o que vale.


4º) A Novidade – Gilberto Gil
Se eu não me engano, era uma das músicas inéditas do repertório do CD Unplugged MTV, de 1994, mas conheci por fazer parte da trilha da novela Pátria Minha – por sinal, a melhor de todos os tempos. De qualquer maneira, nunca ninguém cantou a desigualdade social com tanta poesia. A “novidade” em questão era uma sereia. De um lado, o poeta queria seus beijos. De outro, a população esfomeada pretendia cozinhar sua parte marítima para saciar a fome. A tragédia estava lançada.


3º) Debaixo dos Caracois dos Seus Cabelos – Caetano Veloso
Talvez essa seja a maior canção romântica brasileira escrita fora de um contexto amoroso. Roberto Carlos compôs a música para Caetano Veloso, estava exilado em Londres no período de repressão da ditadura militar, para expressar sobre a saudade que o amigo sentia de seu país e a dor e vazio por não poder voltar.


2º) Segue o Seco – Marisa Monte
Entre 1994 e 1995 eu era um adolescente bobo que torcia o nariz para tudo o que era assinalado pela crítica. Com Marisa Monte, não foi diferente e, de uma forma ou de outra, eu  a considerava superestimada, mesmo com um hit que eu gostava, Bem que Se Quis (tema de Lúcia Veríssimo quando ainda era musa em uma novela chatíssima) e outras duas músicas que conhecia, mas não gostava: Beija Eu e Ainda Lembro (uma parceria com Ed Motta). Segue o Seco, o clipe vencedor do VMB da MTV Brasil, me fez correr atrás de toda a sua discografia e gostar das músicas que antes eu, bem… Você sabe. Era poesia pura na TV. “Segue o seco sem sacar que o caminho é seco, sem sacar que o espinho é seco, sem sacar que seco é o ser sol…”. Nacionalmente é a minha canção preferida, mas…


1º) Coisas da Vida – Milton Nascimento
Se Deus tem uma voz, a que mais se aproxima é a de Milton Nascimento, e só por isso ele merece esse pódio. A composição pode ser até levinha, mas faz um estrago imenso para quem a ouve. A letra é simples, mas nada óbvia, um mérito e tanto para as composições atuais. “Nunca é igual se for bem natural, se for de coração, além do bem e do mal, coisas da vida…”. Milton prossegue, soberano: “O amor, enfim, ficou senhor de mim, e eu fiquei assim, calado, sem latim, coisas da vida…”. E, para finalizar: “Olho no seu olhar na festa de estar de bem com a vida”