terça-feira, 18 de janeiro de 2011

As cinco mais autobiográficas

Outro dia conclui que as coisas são exatamente como devem ser, com toda a sorte que existe de coisas, e pessoas, boas e más que podem vir a surgir pelo caminho. Músicas, nesse caso,  são um paliativo para saborearmos com mais intensidade uma desilusão ou momentos de pequenas felicidades. Eu nunca esqueci quando minha irmã me disse que compreendeu o sentido da vida quando escutou Humberto Gessinger, um dos Engenheiros do Hawaii, cantar “um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão...”, quando estava a caminho de um emprego que não gostava.

Desde então, cresci pensando nessa frase, quando algo me desagradava, para, logo depois, cantar um hino brega do Roupa Nova“ah, coração, se apronta pra recomeçar” – e seguir em frente. Minha mãe cantava, para mim, “cachito, cachito, cachito mio. Pedaço de cielo que Dios me dio” e, se eu fosse escolher a música que diz mais sobre mim, embora eu jamais tenha entendido direito a letra, eu diria que é Build, do Housemartins – mais conhecida como o “melô do papel”. E, embora não diga exatamente nada sobre mim, é a mais autobiográfica da minha vida, porque passei a escutá-la na rádio, depois diante de uma vitrola e, ainda assim, geralmente quando estou muito triste, recorro a ela – e seus homens da construção.

Fernanda Young, uma vez me disse, em uma entrevista,  que sua literatura é um jogo cheio de enigmas. “Quando pensam que estou num personagem, estou num outro. Quando parece que é num acontecimento que me revelo, pode ter certeza que estou disfarçando; são nas sutilezas que me escancaro”. Com os cantores, não é diferente e, mesmo que eles não componham, cantam eles mesmos, mesmo que com todos os disfarces que possa haver. E nós, meros ouvintes, nos desmanchamos. Em lágrimas, em risadinhas, em pensamentos felizes e tristes. Isso é vida. Bem vindo à "Lista Cinco"


5º ) Meu momento - Wanessa
Tudo bem que a rainha do flop tenta evoluir do brega para o pop e, só por isso, merece um voto de confiança. O problema é que é a forçação de barra que está por trás disso. A música em questão é contagiante, mas Uã começa a canção com a frase, capaz de gelar os ossos de quem escuta. “Você me olha por cima, me trata como menina, mas não sabe do que eu sou capaz...”. Uma mistura entre curiosidade e medo. “Mais do que filhinha de papai, menina de sociedade” (peraí, Uã, menina de sociedade?). Ah, ela completa: “... corro o risco, eu vim de baixo, eu me perco, mas me acho”. Sim, realmente, “se acha”, Wanessa. Quem, em sã consciência, vai falar sobre o orgulho que sente sobre si mesmo e sai imune às críticas (?): “sou coragem, sou verdade, sem bobagem, falsidade”. Ela prossegue: “Você me viu crescendo e sabe o que eu passei, sabe de onde eu venho, o quanto eu lutei”... Peraí... Quando alguém fala que outra pessoa não sabe o que passou, a primeira coisa que vem à (minha, pelo menos) mente é fome. Não sei se foi o caso, torço que não, mas quem lutou, mesmo, foi papai, né? Gosto da Wanessa Camargo antiga, aquela que é assumidamente romântica, que talvez fosse uma versão mais jovem de Alcione e todo o seu amor rasgado. Dessa, não. Forçada, fake, chata... mas, na música, ela diz que vai tentar mudar o pensamento. Tomara que a neta de Francisco consiga.


4º ) Meninos e Meninas – Legião Urbana 
Não é a minha preferida da banda, e nem sequer gosto dela. Não sei se existe algo mais estereotipado do que aquele adolescente metido a garanhão que toca violão e começa a arranhar desafinadamente músicas de Renato Russo e fica rodeado de menininhas que, por certo, ele vai tentar transar. Só que nessa canção, do nada, o vocalista da banda solta um: “e eu gosto de meninos e meninas”. No caso dele, eu não acredito que ele gostasse também de meninas, mas foi muita ousadia, em pleno início dos anos 90, cantar isso. E ser repetido!


3º ) Lucky – Britney Spears
“É hora de maquiar-se, sorriso perfeito, é você que todos estão esperando. Eles dizem: ‘não é amável, esta garota de Hollywood?’", começa a letra. Quem nunca fez isso - respirar... seguir em frente? Quando ouvi essa música, nos primórdios de minha adolescência, pensei: “essa menina vai se matar um dia”. Por isso, quando ela teve aquela crise, agrediu paparazzi e raspou a cabeça, não me surpreendi. Em Lucky, Britney mostra o peso de ser uma celebridade e, sobretudo, de não estar preparada para isso. A batida é animada, esconde o jogo, mas no fim é uma canção bem melancólica. Ela é sortuda, ela é uma estrela” (o que pensam dela), “mas ela chora, chora, chora no seu coração solitário, pensando se não há nada faltando em minha vida. Então por que estas lágrimas caem à noite?” (é o que ela realmente é). Tomara que não as sufoque no travesseiro e a má fase tenha passado.


2º ) Discutível Perfeição – Sandy & Júnior
Quem tem mais de 15 anos pelo menos já ouviu falar coisas dela que soam grosseiras mas, nem por isso deixam de ser engraçadíssimas – se você não estiver na pele dela, é claro. Brincadeiras à parte, só percebi que essa canção era autobiográfica, quando minha esposa, então noiva, disse: “detesto essas músicas de alterego”. Gosto da Sandy, e concordei com sua posição no que se referiu às vítimas do terremoto do Haiti há um certo tempo: vamos arrumar nossa casa e, depois, ajudar ao vizinho, sem minimizar a tragédia alheia, como ela mesma fez. A música acaba sendo um desabafo bobo sobre a sua relação com a imprensa ( ela mesma cita na música os “longos” anos de estrada, mesmo sendo tão nova), mas é boa. Sandy começa pedindo para que não a idealize e que, de santa, não tem nada.  Admite que o glamour não dura o tempo todo, e faz o desmentido da famosa afirmação de que ela não... ah, você sabe: Eu também preciso ir ao banheiro”. O refrão chiclete “a princesa também sente, chora, sofre, sonha e ouve não (ouve não)” mostra que ela é de carne e osso. Eu, definitivamente, nunca duvidei disso, mas vem de acordo com o que as pessoas querem pensar sobre a gente e tomam como verdade absoluta a partir do que veem. Não é uma canção corajosa, embora tente. Um clipe ousado, de Sandy fazendo coisas inimagináveis no quesito do politicamente incorreto, seria muito bem vindo e talvez preenchesse esse vácuo. Afinal, “a princesa também briga, encrenca, berra e fala palavrão  (mas só se eu quiser)” corrige ela.



1º ) Hands Clean – Allanis Morissette
A música tem o seu papel sublime e um deles é o de estimular desabafos, e de ver que, muitas vezes, as pessoas não estão sós. Contar um abuso sexual é barra pesada, mas Alanis, a rainha do desabafo, fez isso em uma das canções mais fortes que já ouvi. Ela, que numa espécie de catarse usa suas músicas para falar sobre as rejeições que sofreu e todos os complexos, exorcisa males, exterioriza frustrações e faz com que outros se identifiquem. Nós iremos adiar para alguns anos mais tarde e ninguém sabe, exceto nós dois. E eu tenho respeitado seu pedido de silêncio, e você tem lavado suas mãos limpas quanto a isso”, brada a cantora. Para seguir em frente depois.

2 comentários:

  1. Palmas, meu caro! Adorei, principalmente, "hands clean" nessa lista!

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  2. gostei d+!!!! tambem tem a música Gothic Lolita da Emilie Autumn...é uma super auto biografia...

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